10 de abril de 2009

O pecado da omissão

“Não sou responsável pelo sangue desse homem. Eu lavo as minhas mãos!” (Mt 27,24)


Lavar as mãos... A princípio um ato extremamente útil e gratificante. Os membros superiores, sujos, buscam a purificação através da água, espelho vivo da mãe natureza. Entretanto, no caso de Pilatos, as mãos sujas tornaram-se ainda mais sujas. O motivo? Sabia ele da verdade: Jesus era inocente! Suas palavras “não vejo mal nenhum nesse homem!” (Lc 23,4) deixam bem claro a ausência de motivos para castigá-lo, quizá crucificá-lo.

Do latim, Pilatos significa ponte. Infelizmente essa “ponte” foi capaz apenas de fazer a ligação entre a omissão de um homem sem fé com sua própria indiferença. Por mais que fizesse parte dos Planos Divinos, poderia ele sim evitar a morte injusta do nazareno na cruz, caso agisse conforme seus reais pensamentos. Eis aqui a podridão da omissão!

Assim como hoje, a justiça também não se fez presente há dois mil anos atrás. Em sua falta com a verdade, o governador da Judéia falhou duas vezes: a primeira em negligenciar o que era certo, tão claro diante de seus olhos; a segunda em permitir que tal barbárie ocorresse, sabendo que poderia evitá-la com uma simples palavra. Carregará Pilatos eternamente o fardo de desperdiçar a oportunidade de mudar por completo os traços da história.

Não sejamos totalmente injustos. Houve certa tentativa de convencer o povo, em três oportunidades, a soltarem o Rei dos Judeus... Todas em vão! Nem mesmo o sonho perturbador de sua esposa nas vésperas do acontecido ("Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito" (Mt 27,19)) ou o seu ultimato, oferecendo a liberdade de um dos dois Jesus (Cristo ou Barrabás), surtiram efeito na multidão. Buscando evitar a ira de todos, coagiu com o desejo daqueles que “não sabem o que fazem” (Lc 23,34)

O final dessa história? Todos nós já sabemos!


Em suma: por mais que quisesse agir corretamente, Pilatos sucumbiu ao temor de que tal ato gerasse uma insatisfação geral na população, o que fatalmente acarretaria em um desagrado por parte do Imperador Romano. Deixou-se o certo de lado para realizar aquilo que seria mais vantajoso para sua carreira política.

Pôncio Pilatos... Rei por um dia; condenado pela eternidade!


Após tantas informações, resta-me pensar: e nós? Também não estamos lavamo
s nossas mãos com tremenda facilidade diante das impunidades do dia-a-dia? O amigo acusado por algo que não cometeu... A omissão de socorro... A ausência de perdão... Julgamo-nos pessoas de bem e que, caso partíssemos hoje, certamente atingiríamos o Reino dos Céus. Entretanto, somos verdadeiramente bons, mesmo quando não “levaremos vantagem” nessa ação? E quando na caridade é exigido algum sacrifício, continuamos atentos ao próximo? Ou sucumbimos diante dessas pressões?

Aproveitemos então a Páscoa para uma severa revisão de vida. Em que momentos estamos agindo conforme Pilatos? De que forma combatemos a nossa própria fraqueza humana? Buscamos a paz ou apenas a auto-realização? Agimos conforme o mandamento nos manda? Ou conforme os meus prazeres me conduzem?

Tenham uma ótima Páscoa! Vida nova e ressurreição a todos!

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Escrevi esse texto em 2007, dando uma pequena "recauchutada" em 2009. Espero que ele ajude a iluminar a sua Páscoa!

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